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quinta-feira, 1 de outubro de 2009

a vingança

No fundo, uma chama de "vingança"...
Escrito por Vítor Vieira Em Domingo, 14 de Junho de 2009


Eu não sei se as palavras que seguem podem ser tomadas como regras, ou como qualquer tipo de "determinismo comportamental", se podemos dizer assim. Não se trata, que fique bem claro, de qualquer tentativa de criar verdades, nem muito menos tentar defender uma. Mas gostaria apenas de descrever certo fenômeno que ocorre não somente comigo, mas com muitas outras pessoas, pelo menos algumas com as quais tenho/tive algum tipo de contato.

Estou a tratar de certa uma sensação/sentimento que em determinadas situações surgem, bem lá dentro de nós, e que pode ora ser duradouro, ora apenas um surto momentâneo.

O que ocorre é que, por vezes, quando acabamos por sofrer algum tipo de dor, tendo sido esta gerada num contexto de uma relação com outra pessoa, ainda que tenhamos sido os grandes responsáveis por este revés, sentimos uma vontade incontrolável de fazer com que a outra pessoa sinta a mesma dor. Ou seja, é como se estivéssemos falando de uma "vingança injusta". Contraditório, claro, afinal, a verdadeira vingança é aquela que parte de algo sofrido primeiramente, e não de uma agressão gratuita. E bem, é exatamente desejo de agressão gratuita que se sente, quando saímos machucados. Algo como, "eu sei que fui eu quem fiz a merda, mas mesmo assim eu quero que ela sinta a dor que estou sentindo agora". É exatamente isto o que dissemos para nós mesmos.

Obviamente, isto manifesta-se das mais distintas formas, e possui diversas conseqüências. Pode ser algo passageiro, controlado pelo reconhecimento de que fazê-lo seria contraditório com nossos valores morais, ou então controlado por algum tipo de remorso pelo próximo, a quem se deseja este mal, dentre outros. Bem como este controle ou a ausência dele pode nos levar a uma ação que certamente não possui justificativas, e cujas implicações podem não ser das melhores, indo de um simples "arrependimento", ou até mesmo um revide, este sim justificado, por parte da outra pessoa.

Mas o que traz minha curiosidade à tona, com relação a isto que descrevi é que, tal é algo que vem até nós sem que reflitamos ou questionemos sobre ele. Ou seja, sente-se isto, e ponto final. Independente de como nossos pensamentos vão lidar com isto, esta "vontade de fazer mal" surge, queiramos ou não. Como deixei claro no começo, não estou aqui e tratar de um axioma psicológico. Mas ora, isto ocorre. Comigo, e com outras pessoas.

E fica a grande questão, de onde vem esta "coisa"? Devo dizer que para mim, como uma pessoa que preza por uma certa justiça, no sentido de ser recíproco para com os outros, é curioso que mesmo com este tipo de valor seja eu capaz de abrigar este tipo de pensamento. Como disse, ele entra em casa sem bater à porta, muito menos pedir para abrir...

E pergunto, por qual motivo desejamos algum mal, por mais sublime que seja, e por mais passageira que seja esta vontade, a alguém que não o merece, visto termos sido nós os responsáveis por nosso sofrimento? Eu não vou ser hipócrita, eu realmente já senti isto em determinadas circunstâncias. Mas ora, por quê?

Algum tipo de "revide automático", que transcende a noção moral de reciprocidade? Obviamente não vou usar termos como natureza ou instinto, mas é realmente desagradável perceber que em algum momento um conceito seja ignorado pelo nosso pensamento, de forma "involuntária".

Bem, independente disto, o que se pode ter certeza numa situação desta é que, se de alguma forma, prosseguirmos com este sentimento, até que se resulte uma ação, não estaremos sendo justos. Este é o outro lado da moeda, quando temos o dogma Satanista: aja com os outros assim como estes agem com você. E é justamente num momento como este que nossa "fidelidade" aos nossos princípios são colocadas em prova. Não que o Satanismo nos coloque em tal situação a todo o tempo, como em muitas outras religiões, mas não serei parcial a ponto de não apontar este tipo de ocorrência. E claro, quem decide se dará ouvidos a esta "convocação mental de ataque" é o próprio indivíduo, claro. Eu, particularmente, com certeza não o farei. E você? Se não passou por isso (ainda), pois fique sabendo que existe.


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